No seguimento da discussão elaborada em fórum sobre autenticidade e transparência pessoal / virtual, apresentam-se aqui as conclusões em dois momentos distintos: em primeiro lugar pelas palavras dos participantes; em segundo lugar através da elaboração de uma síntese refelxiva pessoal.
Será a identidade digital um prolongamento da personalidade pessoal ou um campo alternativo da nossa personalidade íntima?
A identidade de cada um é aquilo que faz de nós aquilo que somos, isto é, é aquilo que nos define como seres humanos, mais propriamente como pessoas; é também o que nós vemos em nós, o que pensamos sobre nós e o que os outros vêem em nós, sendo também o que queremos que os outros vejam em nós e o que nós queremos ver em nós mesmos. Podemos desde já perceber que a formação do conceito de identidade pessoal é bastante complexo. Neste sentido poderemos tentar perceber a questão incial 'Será a identidade digital um prolongamento da personalidade pessoal ou um campo alternativo da nossa personalidade íntima?' a partir das seguintes linhas de pensamento:
• “A criação de uma identidade digital será o prolongamento da nossa personalidade, na medida em que estamos a tentar levar ao outro aquilo que imaginamos que ele quer saber de nós”. (António Pedro)
• “Mesmo na vida real nem sempre queremos mostrar quem autenticamente somos e , por isso, pode ser fácil transpor para o ambiente virtual essa “falsidade” do Eu”. (palavras de Marco Freitas sobre a perspectiva apresentada por Cecília Tomás)
• “Este novo ambiente provavelmente fomentou junto dos utilizadores da Internet uma vontade de criar uma nova identidade – adequar a sua personalidade a um mundo desconhecido mas muito exigente a vários níveis - para marcar um lugar e fazer-se, assim, reconhecer como diferente entre tantos outros.” (Marco Freitas)
• A intenção com que se faz a transformação / prolongamento ou completamento da identidade pessoal em identidade vitual.
A partir destas coordenadas conseguimos perceber que a dimensão da identidade pessoal pode falsificar-se, não apenas na nossa vida real como também no domínio do digital e, devemos ir ainda mais longe afirmando que neste domínio a nossa identidade poderá, com maior facilidade, trazer uma nova forma de identidade. Será, então, que a nossa identidade ou prolonga-se ou completa-se com a digital? Será que ou ao prolongar-se ou ao completar-se com a dimensão virtual, não rompemos aqui com a concepção tradicionalista da dualidade corpo/alma para entrarmos numa nova dimensão de simulacro?
A partir destas coordenadas conseguimos perceber que a dimensão da identidade pessoal pode falsificar-se, não apenas na nossa vida real como também no domínio do digital e, devemos ir ainda mais longe afirmando que neste domínio a nossa identidade poderá, com maior facilidade, trazer uma nova forma de identidade. Será, então, que a nossa identidade ou prolonga-se ou completa-se com a digital? Será que ou ao prolongar-se ou ao completar-se com a dimensão virtual, não rompemos aqui com a concepção tradicionalista da dualidade corpo/alma para entrarmos numa nova dimensão de simulacro?
Segundo Baudrillard “ao tentar pensar sobre mim próprio estou a criar um simulacro sobre aquilo que realmente sou. A minha identidade digital, por mais transparente que eu queira, estará sempre sujeita à noção que tenho do eu.” (António Pedro) A identidade digital pode, assim, ser vista como um campo alternativo da nossa personalidade mais íntima “no caso de ficarmos preocupados com aquilo que pensamos que os outros pensam de nós se acharmos que não corresponde ao que vemos em nós.”(António Pedro) Estas intrínsecas ligações entre a identidade real e a identidade digital colocam, no entatnto, em questão o problema da intenção. O domínio virtual será mais propício à existência de má-fé (má intencionalidade) porque a falta de presencialidade, de rosto humano, poderá levar-nos a criar uma identidade falsa ou múltiplas identidades – como se fossemos heterónimos – contudo isso depende da ética de cada um e, dependerá acima de tudo da intenção com que se praticar tal acção.
O perigo da fraude intelectual aumentou com o advento da internet?
Como mostrou Lévy, desde que a autoria deixou de ser central (como o era na Grécia, por exemplo) e os comentadores ou 'autores menores' começaram a ter um peso considerável no domínio da elaboração de obras, questões relativas a fraudes começaram a colocar-se. Certamente que não estaremos a falar da mesma fraude de que se fala actualmente, mas estamos, neste caso, a falar da questão relativa à autoria e aos direitos de autor. A fraude intelectual sempre existiu; é certo que o plágio sempre existiu, contudo o computador permitiu que isso acontecesse com maior facilidade (o que provavelmente incidiu também na frequência), mas... a possibilidade de transparência, nesta área, também passou a ser maior (talvez?). Ao falarmos de plágio deveremos reflectir sobre “não apenas o plágio da palavra mas a usurpação do indivíduo.” (António Pedro) Com a existência da internet “a velocidade com que se obtém informações sobre uma determinada pessoa (também aumentou). Em pouco tempo é possível simular a existência de um individuo, clonando e simulando as suas intervenções com o mundo real e virtual ao ponto dos mais distraídos não conseguirem diferenciar as intervenções do real e do clone.
A Internet permitiu estabelecer contactos, criar amigos e fazer negócios sem que as pessoas se encontrem presencialmente. Quantos menos contactos um indivíduo fizer no mundo físico, mais facilmente será clonado.
A Internet permitiu estabelecer contactos, criar amigos e fazer negócios sem que as pessoas se encontrem presencialmente. Quantos menos contactos um indivíduo fizer no mundo físico, mais facilmente será clonado.
Então como evitar ser clonado?
1) Deverá o individuo criar rapidamente um perfil verdadeiro em várias redes sociais. O que apesar de permitir a recolha de informação pelo falsário também dificulta a criação de um perfil falso;
2) Aparecer em público, acompanhado pela família e pelos amigos, para evitar que alguém se faça passar fisicamente por ele;
3) Ter o cuidado de proteger as suas palavras chave com que acede aos mundos virtuais. Isto é tão importante como no passado ter uma assinatura no banco ou informar a polícia quando se perdia os documentos de identidade.” (António Pedro)
Mais uma vez devemos colocar em pauta a questão da intencionalidade relacionada com o uso da internet e, neste caso, em relação ao plágio. Como diz Lauriza Nascimento “quem “nasceu primeiro” (se) a intencionalidade de fazê-lo ou o caminho para tal consolidação pelo homem, sujeito de novos tempos, inserido em um novo contexto! Será a internet a grande vilã? Ou será o homem, o “vilão” no contexto analisado e apropriador de conteúdos de terceiros? Percebem uma ação cíclica nisso?! Até que ponto conseguimos delimitar tais atitudes - será que todas elas são frutos de tentativas puras e simples de subtração? Que outros elementos inserem-se? Em que patamar podemos colocar a desinformação ou a informação positiva no sentido de gerar criticidade nas pessoas por respeito ao que pertence a terceiros? Observamos ações isoladas neste sentido e...muito distante da cultura estabelecida de que é fácil,rápido usar a internet para tais práticas.”
O HOMEM É CLARAMENTE O VILÃO, MAS SEM A MÁQUINA E A REDE DAS REDES NADA DISSO SERIA POSSÍVEL. (percebe-se isso através da existência de figuras históricas como Nicolas Bourbaki que, pelos vistos, nunca existiu – será?) A intenção com que a máquina é usada, bem como a forma, intencional, com que nos apropriamos do que encontramos na rede é da nossa responsabilidade. A internet é um instrumento, ao lado da máquina, mas... sem a intencionalidade humana não tem possibilidade de criar o movimento de informações e de acções que a partir dela surgem. No entanto, e ligada à intencionalidade, está a dimensão das consequências provenientes das nossas acções. Quando utilizamos a internet como fonte de informação teremos de saber utilizá-la convenientemente e de forma responsável e, é no seguimento desta ideia de responsabilidade que surgem outras duas questões:
1) Será possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
2) Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?
É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
Segundo Castells “a capacidade da rede das redes (a Rede) é tal que uma proporção dimensionável da comunicação que ocorre na Internet é ainda em grande parte espontânea, desorganizada e diversificada no que respeita a propósitos e pertença” (pág. 463). Esta afirmação mostra-nos que “milhões de redes de computadores estão interligados a todos os níveis e por todos os credos. Será, pois, possível uma só entidade controlar estas redes ligadas pela Internet, com identidades, regras e comportamentos diferentes?” (Marco Freitas)
“Penso que isso será quase impossível, porque, embora se fale numa Rede, não se pode esquecer que há outras redes espalhadas por todos os cantos do planeta, diversificadas quanto a ideologias, valores, gostos e estilos de vida. Enfim, a sociedade interactiva não deixa de ser uma "sociedade segmentada"”. (Lauriza Nascimento) Devido à imensidão que constitui a rede ‘ninguém consegue controlar aquilo que está dipsonível na Internet’. (Marco Freitas) Efectivamente Castells afirma que a proporção da rede leva a comunicação a ser 'desorganizada' e, por este motivo, parece que seja quase impossível existir algo / alguém que controle a rede. Se é possível controlá-la? Sim, porque não?! Quem a criou - o Homem - saberá perfeitamente como controlá-la, mas isso não significa que o queira fazer: é apenas uma questão de intenção (como se consegue perceber na mensagem do António Pedro que mostra como o Governo consegue controlar / censurar, de uma forma ou de outra, aquilo que se passa na rede.
Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?
Será a rede segura? Se sim, quem a garante? Em que medida a informação que existe na rede é de confiança? Se sim, quem a garante?
A rede será segura se quem nela participar tiver boas intenções, contudo sabemos que a rede não é, propriamente, segura e por isso se fala da segurança na internet.
A rede será segura se quem nela participar tiver boas intenções, contudo sabemos que a rede não é, propriamente, segura e por isso se fala da segurança na internet.
De que rede falamos? A Internet é “a grande Rede, à qual confluem outras redes mais pequenas, mas não menos complexas. (Lembro que,) quando dois ou mais computadores se ligam entre si, cria-se uma rede. Entre estas, temos as redes dispersas (não geográficas) como as sociais; as redes locais, como as Intranets nas instituições.” (Marco Freitas)
Será a informação que existe na rede segura? Em alguns locais sim (ao menos é possível escolhermos os sítios onde fazem a defesa da qualidade nos conteúdos que disponibilizam.”(Marco Freitas)), mas em outros não (“o boletim de segurança MS04-039 da Microsoft descreve uma vulnerabilidade que pode permitir a um utilizador malicioso forjar conteúdo Internet fidedigno. Neste cenário, os utilizadores podem ser levados a acreditar que estão a visitar um site fidedigno quando estão, na verdade, a visitar um site criado com objectivos maliciosos.” (António Pedro)). Apesar de tudo isto a questão coloca-se novamente: Será a rede segura? “Se existisse total segurança não haveria tantas preocupação em torná-la segura! Os sistemas são falíveis, não contemplam de modo integral a tão desejada segurança, principalmente no que se refere a prática das obtenções ilícitas factíveis via rede!!” (Lauriza Nascimento)
Poderemos no entanto ver a questão da segurança da perspectiva tanto do utilizador como da instituição.
“Por cada nova defesa que seja criada contra esses ataques, seja contra um vírus ou começar uma investigação oficial para descobrir os internautas profissionais que invadem e destrõem sites de toda e qualquer natureza, uma nova forma de ataque é criada. A única forma de combater esse mal é continuar a passar a mensagem que a segurança na Internet faz-se tomando regularmente as devidas precauções. Para isso, aconselha-se que se mantenha actualizado, esteja em poder das últimas informações a este respeito.”(Marco Freitas) Porém da parte das instituições também há colaboração (p. ex. os bancos têm na página de entrada instruções / regras de segurança explícitas - o que não invalida um ataque; o mesmo se passa na nossa vida diária: existe polícia e até andam na rua, mas nada invalida que ao virar da esquina se possa ser assaltado-). Por isso não sei até que ponto será maior o problema da segurança na Internet do que o é na nossa vida diária (real e não virtual).
Fica no entanto uma questão: “Será que essa segurança traz benefícios ao utilizador ou alteraria aquilo que caracteriza a Internet? E os utilizadores estarão interessados nessa mudança?” (Marco Freitas)
Conclusão (síntese reflexiva pessoal): A nossa identidade é uma confluência de múltiplas perpectivas daquilo que somos /pensamos ser/ pensam que somos / pensam sobre nós... enfim a identidade é uma construção global de múltiplos factores que se conjugam entre si. Neste sentido poderemos afirmar que, dependdendo da intenção de cada um, a identidade virtual poderá ser ou não ou um prolongamento ou um campo alternativo daquilo que somos. Neste sentido é certo que no campo virtual será mais fácil sermos como ‘avatares’ comandados por nós próprios fazendo, assim, surgir uma nova dimensão do nosso eu. No entanto, e porque a usurpação da identidade se poderá fazer – tal como das palavras que encontramos na internet (plágio – diremos que o plágio não é um fenómeno possibilitado, unicamente, pela internet. Ele sempre existiu e sempre existirá. A internet, possivelmente, abriu o caminho para uma dimensão mais conhecida de plágios), o melhor será ser transparente no uso dos seus dados pessoais nas várias redes em que se vai inserindo; neste sentido vamos tentando salvaguardar tanto a nossa existência virtual como pessoal.
A internet (rede das redes) é um instrumento / meio possibilitador de uma multiplicidade de funções para o ser humano. Intenção e consequências confluem aqui na utilização responsável (ou não) que se faz deste instrumento. Assim sendo questões como as da segurança, usurpação de palavras e de identidade bem como a fidedignidade de informação surgem neste âmbito de abordagem.
Será a internet segura? Para responder a esta questão deveremos, antes de mais, perceber que existem pelo menos duas perspectivas aí implicadas: a do utilizador e a institucional. Por um lado, e na perspectiva do utilizador, há a contínua necessídade deste se precaver, quer relativamente a ataques informáticos (por exemplo vírus) como a ataques pessoais (por exemplo usurpação de identidade), o que mostra desde já que a rede não é, de todo segura; contudo as instituições (organizações governamentais, ou não governamentais) poderão contribuir ora para a segurança na internet ora para a censura informacional (ou pessoal) que existe na mesma e, neste sentido, e como afirmava Castells o desenvolvimento de um país depende, em muito, daquilo que se lhe deixa passar através da rede. Assim sendo a informação que aí encontramos, certamente, que poderá ser fidedigna dependendo das fontes / repositórios onde se encontrar. Quem o garante? A qualidade científica (quando aí são dadas garantias) e, essencialmente, as redes sociais.
Certo é que ninguém controla a rede – bem... o governo muitas vezes fá-lo ou, pelo menos, tenta fazê-lo, como já visto – mas... não podemos deixar de lado a possibilidade de que ela pode ser controlada. É claro que “a capacidade da rede das redes (a Rede) é tal que uma proporção dimensionável da comunicação que ocorre na Internet é ainda em grande parte espontânea, desorganizada e diversificada no que respeita a propósitos e pertença” como afirmava Castells, mas... dependendo das intenções e das consequências com que nós ou alguém se aproprie da internet e daquilo que existe na rede, tudo é possível!
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