A Sociedade da Informação foi um termo que surgiu em 1973 com Daniel Bell que mostra que de algum modo a sociedade surge de forma modificada em termos informacionais depois da revolução / era industrial. Neste sentido a Sociedade da Informação é uma sociedade tecnológica que advém de um processo industrial entrando num período de independência e autonomia tecnológica. Mais tarde, na década de 90, o mesmo termo reaparece ligado a uma nova economia – Globalização –, aparecendo nos meios mais evoluídos em termos cognitivos, não já como Sociedade da Informação, mas sim como Sociedade do Conhecimento (termo utilizado, também pela UNESCO). A Sociedade da Informação é uma sociedade desenvolvida com a informação disponível, sendo esta vista como um meio de criação de conhecimento. A condição fundamental de Sociedade da Informação / comunicação (assim designada no processo de Globalização) tem como condição fundamental o acesso às tecnologias da Informação (desde a telefonia ou o telégrafo até à internet). Assim sendo enquanto a sociedade da Informação é uma sociedade ligada ao desenvolvimento económico, a sociedade do conhecimento liga-se, essencialmente, ao desenvolvimento de todos os sectores da sociedade.
Um dos grandes adventos do processo de Globalização – nova economia emergente no séc.XX com grandes consequências nos mais variados domínios (social, laboral, cognitivo, epistemológico…) – foi a utilização da Internet com as mais diversas funcionalidades. Nascida em 1970 com Vinton Cerf e Robert Kahn (a ARPANET) “ em apenas 25 anos (em comparação, a Revolução Industrial demorou cerca de 250 anos – dez vezes mais), a tecnologia de comunicação entre computadores desenvolveu-se desde um programa altamente secreto do Departamento de Defesa Americana até uma rede de mais de 50 milhões de utilizadores espalhados por milhares de redes em todos os cantos do Planeta”. Com o aparecimento da internet surge, também, a globalização ao nível dos conhecimentos – que se alargou de uma comunidade científica e militar (anos 70) às Universidades (entre 1977 e 1979) até chegar, como é óbvio, ao comum dos mortais (anos 90) - e, parece-me ser aqui que surge, precisamente, a noção de Sociedade em Rede (noção positiva e afirmativa da Internet como meio de formação de relações de interdependência ao nível digital com consequências fundamentais no domínio da realidade). O ano de 1983 foi considerado pelos cibernautas o ano do aparecimento (real) da Internet “pois foi a partir desse momento que a cultura de cidadania mundial se começou a consolidar nesta rede”. A Internet passou a ser uma rede (global) de redes (locais) que a partir dos anos 90 tem uma exponencial expansão atingindo, hoje, a existência de milhões de máquinas que se ligam em rede. A razão desse crescimento assenta na World Wide Web que transformou a Internet numa plataforma que consegue manter “uma grande teia de informação multimédia” que se obtém a partir da utilização de uma linguagem comum que permite integrar os diversos elementos do hipertexto (imagem, som, texto…).
O conceito de Sociedade em Rede surge com o potencial das tecnologias interactivas, na medida em que numa rede qualquer ponto tem o potencial de se conectar (ligar, desligar e interagir) a qualquer outro. Com a interactividade tecnológica que a internet possibilita criaram-se ambientes colectivos (salas de chat) que subverteram os parâmetros da comunicação à distância na medida em que os relacionamentos virtuais não tendem a substituir os reais mas sim a potenciá-los, permitindo a ‘comunicação muitos – muitos’ como afirmou Lévy abrindo a possibilidade da passagem de um ambiente ‘muitos – muitos’, a um ambiente ‘um-um’. A noção de Sociedade em Rede deixa um pouco de lado a parte tecnológica ou informacional colocando enfoque no domínio da sociedade e da comunicação estabelecida através da Internet. A rede é uma estrutura que tem, fundamentalmente, a propriedade da conectividade; ela é animada por fluxos tendo o seu principal dinamismo no campo social onde é animada tanto por dinâmicas locais como globais. As redes são estruturas complexas; são instrumentos de poder e de rivalidades, de integração e de exclusão. Estar em rede é um processo a partir do qual os indivíduos procuram um redimensionamento do espaço público (tanto na interacção, como na intersubjectividade e na mediação cultural); estar em rede é participar de forma colaborativa e cooperativa porque como disse Bruno Latour “ As redes são ao mesmo tempo reais como a natureza, narradas como o discurso, colectivas como a sociedade”. Actualmente o mundo está ligado em tempo real e os acontecimentos globais influenciam a nossa vida (local), bem como os acontecimentos locais repercutem-se na arquitectura global. Mais do que uma multidisciplinaridade (presente, parece-me, numa Sociedade da Informação) a Sociedade em Rede é uma sociedade de interdisciplinaridade porque como diz Castels “Todos os processos se somam só num processo, em tempo real, no planeta inteiro”. A sociedade em Rede é uma sociedade por onde passa, de forma dinamizada, o fluxo das imagens, sons, riqueza e poder que reconfigura o espaço e o tempo, reconstruindo o nosso Ser no Mundo a cada momento que passa (como afirmou Heidegger). Estar em rede é associar-se à existência social, política e económica; não estar em rede é associar-se à exclusão, miséria e violência. Este é o prelúdio da Globalização, um processo que se repercute a todos os níveis.
Com Castels surge a teorização de uma nova sociedade – a Sociedade em Rede – que apesar de surgir da antiga Sociedade da Informação e do Conhecimento, se assume como efectivamente diferente. Esta nova Sociedade é uma sociedade dinâmica, inserida numa nova economia e com potencialidades arquitectónicas porque é uma sociedade que se conecta (liga, desliga e comunica) a um nível local e global, ao mesmo tempo. Esta é uma sociedade estrutural ancorada numa tecnologia interactiva que possibilita, no domínio social, através do advento de uma linguagem comum, a teia de relações (local e global) que redimensiona o espaço e o tempo possibilitando a interacção de conhecimentos e a cooperação em todos os domínios, nomeadamente no da aprendizagem (como diz Castels no vídeo colocado na página da disciplina ESR) ‘aparecerá uma geração de estudantes que comunicam em rede’ (parece-me que estamos no inicio deste advento) e comunicar em rede é ‘aprender com outros pesquisadores, de outras disciplinas; aprender em conjunto e por aproximação’.
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